sábado, 9 de junho de 2007

Um drink no inferno...


Ah. Nada melhor do que uma baladinha rock pra gente recuperar a sanidade. Isso porque no meio de uma balada dessas se você não recuperar a sanidade é capaz de perdê-la de vez. Tudo começou com uma agradável noite em uma pizzaria com a companhia dos meus alunos do 3TC (classe caótica) e muitas risadas. Teve o Hoogle derrubando coca na roupa e o Thiago sentando no lugar que era pra ser do João, mesa 24. E a conta dele? 24 reais. Admita Thiago. É coincidência demais. E eu acho que coincidências não existem.
Por falar nisso, encontrei uma antiga amiga minha no MSN, a Olívia, e chamei-a pra ir comigo. E ela aceitou. Perdoe-a senhor ela não sabe o que fez. Eu imaginava que o lugar seria podre e após dar uma olhada em como ela estava vestida, acho que deslumbrante seria uma palavra afeminada, mas adequada, eu achei que a surpresa dela seria um pouco pior. E foi.
Chegamos por volta das 22:30h a tempo de ver os técnicos passando o som. A primeira vista o lugar parecia ruim, mas foi só entrarmos pra perceber que ele estava pelo menos duas categorias abaixo de ruim. Péssimo seria a outra e Chopperia Paradise a próxima. Chopperia Paradise. Que nome mais pretensioso, não? Eu acho que no máximo ela poderia se chamar chopperia Purgatory, ou Chopperia Hell talvez. Seriam nomes mais adequados, haja visto que a impressão que se tem quando se adentra o local é que você esta no meio do filme “From Dusk Till Dawn” traduzido como “Um drink no inferno”, que ilustra esse artigo. Faltaram só os vampiros.
Uma casa escura, com paredes escuras, vidros filmados na entrada e do lado esquerdo uma área para mesas (ainda bem que havia mesas no local), com um balcão para venda de petiscos (chamam-se petiscos todas as formas de comida não identificadas) e bebidas ao fundo e do lado direito uma área dividida em três partes com palco ao fundo, pista de dança (5x3m) e uma outra área com mesinhas. Escolhemos uma e sentamos. Mais uma vez obrigado Olívia. Me salvou de pelo menos duas dores de cabeça. A primeira teria sido esperar até que meu aluno, o Will, chegasse, e a segunda me livrar de uma das personagens mais bizarras da noite. Para ela poderia ser reservada uma boa parte desse artigo, mas vou tentar resumir.
Ela tinha por volta dos seus 45 anos, talvez um pouco mais, e quando chegamos ela estava sentada sozinha em uma mesa atrás de nós. A principio achei que fosse uma prostituta, sem querer dar a isso uma conotação de desprezo ou qualquer outra desmerecedora. Era apenas a atitude dela. Sozinha, com roupas apertadas, um bom corpo e um olhar caçador. Aquele que é necessário desviar para não virar pedra. É o padrão de mulher desesperada. E como. Enquanto eu contei chegou a sete o numero de vitimas. Incluindo uma que saiu com ela do ambiente e voltou depois de algum tempo. Como o cara legal que ele devia ser apresentou-a ao amigo. E ela ficou com o amigo. Caçadora, como eu disse. Aposto que voltou pra casa cheia de peles e escalpos pendurados nas mãos com ar vitorioso gritando para as paredes: “Aqui estão as oferendas. E eu passei herpes para todos eles”. Tomara que seja só herpes de boca. Ouvi dizer que o outro o das genitálias, é muito pior. Imagina se ele pega do amigo.
E como se não bastasse no final da apresentação da penúltima banda ela resolveu se sentar ao lado da Olívia, sinto muito Olívia, mas poderia ser pior, ela poderia ter se sentado ao meu lado, por exemplo, e como se fosse a coisa mais natural do mundo ela pegou a minha lata de coca que não estava acabada, mas tinha sido abandonada pelo menos duas horas antes, balançou pra verificar se tinha algo e tomou. Sim. Ela tomou o resto de coca-cola que estava na lata. Entendeu? Fim de feira. Fim da história da loira. Na verdade mesmo o fim veio quando o segurança pouco depois disso pediu que ela se retirasse por um motivo que eu infelizmente desconheço.
Havia também um casal sentado do nosso lado que era estranho. Não deveria ser na década de oitenta como foi muito bem lembrado pela minha companheira de balada furada, afinal a mulher tinha os cabelos curtos com corte masculino e umas correntes presas a roupa e o cara os cabelos longos com uma camisa aberta até o umbigo. Depois de se drogarem na mesa, com algo que eu não consegui identificar mas que poderia ser lança perfume (quem diabos se droga na balada com lança perfume???), a mulher de cabelos curtos foi dar um cola nos caras que estavam dançando na pista em frente ao palco e entrou no meio da galera mandando chutes e cotoveladas pra todo lado. Uma droga poderosa essa, eu acho.
Depois de mandar pra dentro a terceira coca-cola da noite, duas na pizzaria e uma nesse lugar hediondo, senti a necessidade de usar o banheiro. E lá fui eu. Sem medo. Até ver o local.
Ao chegar à porta do banheiro que ficava ao lado do palco eu vislumbrei uma barata. Morta. Não eu não tenho medo de baratas. Realmente não é esse o caso, pois eu até gosto da sensação que elas dão quando colocamos o nosso peso em cima das bichinhas e elas estão sob os nossos pés. Faz um PLAFT. Eu acho divertido. Mas o caso, o assustador é que essa barata estava morta. E intacta. Nada de líquido verde fluindo pelas laterais ou pequenos órgãos espalhados ao seu redor. Ela estava intacta.
Cabe a mim lembrar que as baratas são seres que vivem nos esgotos, rodeadas de merda e todo tipo de dejetos e que segundo os cientistas são um dos poucos seres que sobreviveriam a uma catástrofe nuclear. E lá estava a bichinha, morta com o olhar desesperado de quem quase alcançou a saída de um lugar que deveria ser pior do que o próprio inferno. O cheiro que vinha de dentro dizia que poderia ser mesmo. Então pensei “Se a barata que tem todos esses atributos não sobreviveu ao banheiro, que chance eu teria?”. Mas quem me conhece sabe que eu não conheço o medo. Não se estiver prestes a urinar três latas de coca nas próprias calças. Cabeça erguida e olhar desesperado entrei no quartinho.
As paredes eram de um preto que não se consegue nem em experiências cientificas com fungos. Acredito que aquele lugar fosse mais antigo e usado do que qualquer outro no Brasil. Deve ter sido construído pelos portugueses que descobriram a Freguesia do Ó com tanto lugar bom pra descobrirem.
Havia um bêbado que também não conseguiu chegar à privada e estava caído muito próximo a seu liquido biliatico amarelado com alguns poucos mililitros de bebida alcoólica. Todo o resto já devia ter sido absorvido pelo sangue a julgar o rosto sem expressão do sujeito. E ele já estava sendo absorvido pela parede de fungos, tal e qual o navio de Davy Jones no filme Piratas do Caribe. Uma cena nauseante. Um pouco a frente e atrás de uma parede estavam dois banheiros sem porta (talvez um dia eles tivessem uma) e um mictório que deixa os tais odiados de alumínio no chinelo. Acredite. Era uma construção imitando (acredite imitando) aquele instrumento de torturas de alumínio com uma base de pelo menos 20 centímetros. Quer dizer, para que a urina conseguisse atingir o fundo do tal mictório seria necessário que ela viajasse por pelo menos vinte centímetros. E qual homem não consegue isso? Pelo menos após a terceira lata seria possível talvez atingir um apartamento que estivesse no segundo andar de um prédio. E possivelmente o teto. Mas e quando a pressão diminuísse? O que aconteceria? Se você consegue imaginar isso entenderá o estado do local. Eu obviamente optei por um dos pequenos banheiros sem porta. A única dificuldade que tive foi a de manter o equilíbrio. Sim, pois o chão estava com urina até quase um centímetro e os meus pés ficavam insistindo em ir um para cada lado. A única coisa que me manteve na posição vertical foi o desespero de me imaginar caído naquele chão e a parede tentando me absorver. Eu me tornaria parte dos fungos e ninguém jamais saberia o que aconteceu comigo. Um destino triste. Não me rendi e mantive o equilíbrio mesmo na hora de fechar o zíper. Tarefa árdua essa.
Pobre da Olívia que desanimou só de ver uma barata morta no feminino.
Assistimos quatro bandas antes da banda do Will tocar. Uma pior do que a outra, exceto talvez por uma chamada “Made 23”, que era composta na maioria por mulheres. Essa tocou Evanescence como poucos. Realmente muito bom. E até arranhou um Rage against que ficou bem boazinha. Mas as outras três bandas, meu Deus. Muito ruins. Mesmo. Nem esforçadas era cabível para duas delas. Esperamos até a entrada da banda do Will,a ironia SP, que quando entrou mostrou pra que veio e fez valer a pena a espera e o lugar. Talvez não o banheiro, mas todo o resto com certeza. Virei fã do cara. Eu duvido que ele veja isso, mas se ver, parabéns irmão, acho que você nasceu pra isso.
Após o show (um pouco antes do fim na verdade) fechamos a noite com um papo muito legal, que é a grande vantagem de sair com pessoas como a Olívia, que tem a rara mistura de beleza, inteligência e um senso de humor dos melhores, e um café da manhã muito bom na Dona Deola, uma padaria, que fica na rua Cerro Cora no alto da Lapa.
Algumas noites a gente não esquece por que a balada é ruim e outras a gente não esquece por que ela é boa.
Essa eu não vou esquecer pelos dois motivos.

6 comentários:

Gleyciely MoraEs disse...

È Ivan vc caprichou nesse texto... legal, engraçado e cheio de detalhes como sempre. Assim eu vou ficar viciada no seu blog... Adorei Bjs
De sua Fã nº 1

Gwen disse...

HAHA... Agora vem a minha perspectiva da coisa... Dizem que sempre que você sofre um choque, passa por cinco estágios: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Me vi claramente passando por esses estágios na balada. Primeiro pensei “Isso não eh nada. Vc já esteve na Led Slay. Suporta qualquer coisa.”. Na fase de raiva eu só pensava “Moleque fdp!!! Pára de gritar! Tua mãe não disse que matar gato é feio?”. Depois que voltei do banheiro (infrequentável), passei para a fase de barganha. Afinal, pensar com a bexiga cheia é só para o Bruce Lee. A depressão veio quando eu comecei a observar a tia “maneater”... Até lembrei da música. A aceitação realmente é a melhor fase. Vc se liberta e pensa que vai ter uma nova história pra contar para seus amigos.

Prós disse...

Negação - Não, eu não trouxe a Olívia aqui. Eu não fiz isso.
Raiva - Lugar mother f*, banheiro mother f*, bandas mother f*, mother f*
Barganha - Eu posso te pagar um jantar depois disso?
Depressão - Ela ta tomando a minha coca????????
Aceitação - Tudo bem, só faltam quatro bandas mesmo...

É... ninguém mandou...

Gwen disse...

Você esqueceu de falar da cadeira bamba... Eu poderia ter caído. Não foi tão terrível assim (não é que esse negócio de aceitação funciona? rs...)

A vingança virá breve. Vc vai à Led Slay. Muhahaha!!!!

Unknown disse...

Notivago, insone, inquieto e com um computador. Acído, melancólico, sarcástico, cínico e implacável.
Vc realmente achava q sabia do q era capaz...

Dejeve Cetier disse...

cara, são tantas passagens engraçadas q eh difícil comentar sobre elas individualmente! xD

me diverti mto com a sua desgraça, OTÁÁÁÁRIO!

ehUEAHuiEAhuieaa
espero que o rolezin de hj tenha ajudado nessa situação aí o_o/

falô JÃO! :D