sexta-feira, 14 de agosto de 2009

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ninguém mais quer o meu dinheiro...


Pode acreditar. Esse negócio de crise financeira é conversa pra boi dormir. Acho que só eu ando precisando de dinheiro nesse mundo cruel. Não acredita em mim? Então vá a uma concessionária e tente comprar um carro. De preferência um carro que antes, era chamado de “popular”. Popular é o cacete. Onde já se viu um carro dito do povo, custar entre vinte e nove e trinta e cinco mil reais.

Chegue para o vendedor com a cara mais lavada do mundo e o orgulho aparente e diga: “Vim comprar um carro mil. Vou pagar a vista.”. Sabe o que ele dirá pra você? “Tanto faz!”.
Tanto faz.

Ele não se importa se você vai pagar a vista ou se vai ter penhorar todas as jóias da sua falecida avó pra pagar as parcelas. Não importa se você terminará ou não de pagar o carro. Pra eles – os vendedores – tanto faz!

Ok. Não fui eu quem foi comprar o carro. Digamos que eu apenas acompanhei, de uma distância segura, o comprador, como um consultor meia boca e, na verdade, nem vi a finalização do negócio, mas o que eu senti quando aquele cretino disse: tanto faz!, me fez renovar, em minha cabeça, o repertório de palavrões, que modéstia a parte, é bem extenso.

Os caras estão por cima da carne seca. Maldita redução do IPI. Verdade que precisamos manter os empregos dos funcionários das montadoras. Mas a que preço? Nem me venha falar do meio ambiente, pois eu já disse o que penso disso. O alto custo que vejo é a manutenção de um cara que mal sabe ler e escrever e vira pra quem se matou anos, juntando um dinheiro pra comprar um carro a vista e diz: “tanto faz!”. Ahh. Morra. Fodam-se as concessionárias.

Mas a coisa não acaba por aí.

Você já viu as propagandas de operadoras de telefonia celular? Pessoas lindas, jovens, modernas, descoladas e atendendo as pessoas como se estivessem realmente se importando com elas. Se você acredita nisso, tente mudar o seu plano de pré para pós e conseguir um aparelhinho melhor.
Pois bem. Com essa missão, fui ao shopping e me dirigi primeiro à TIM. Sabe como é. Sou fiel. Foi o melhor atendimento de todas, o que não é difícil e, infelizmente, não quis dizer nada. O vendedor me cumprimentou com o rosto sério e impassível e mandou um automático “Boa noite.”. Ok, eu não esperava que me colocassem um colar de flores na entrada e gritassem “ALOHA!!”, mas pelo menos um sorriso.
- Boa noite, eu queria mudar o meu plano para um pós-pago da TIM. E trocar de aparelho também.
- Pois não, nós temos esses celulares aqui – espalha aparelhos lindos e caros pela mesa na minha frente, enchendo os meus olhos – para que o senhor mude para a TIM.
- Não. Eu já sou cliente TIM. – Disse isso com um orgulho quase infantil e um sorriso no rosto.
- Ah. Porque o senhor não me disse antes? – Recolheu os aparelhos da mesa e abaixou para guardar e pegar outros. Fiquei mais feliz ainda. Eu finalmente, serei reconhecido por ter sido cliente fiel por seis anos. – Para pessoas que já são cliente nós temos esse aqui. – Ele me mostrou um aparelho que eu tenho quase certeza, era usado. Talvez algum que tenha sido devolvido e restaurado pela empresa.
- Não. Espere. Algo deve estar errado. Eu gasto o meu dinheiro com vocês há seis anos. Eu quero aqueles outros aparelhos. Os novos e bonitões, cheios de tecnologia.
- Não há engano nenhum senhor. Os aparelhos que eu mostrei são apenas para clientes novos. O senhor não quer comprar uma nova linha?
A minha sorte é que sou uma pessoa controlada. Mantive a postura, me levantei da cadeira e, como um lorde inglês, dirigi-me ao vendedor e disse, sem alterar o tom de voz:
- Não muito obrigado. Eu não quero comprar uma linha nova. Na verdade, eu quero que o senhor pegue todos aqueles aparelhos e enfie no rabo. Um por um. Ah, não se esqueça de colocá-los no vibra call antes disso. – Virei as costas e sai da loja, sob protestos do vendedor, que foi pego de surpresa e não teve a idéia de correr atrás de mim. Pelo menos eu estava com sorte.
Aproveitei a boa maré e me dirigi com a vingança na cabeça, às outras três operadoras rivais. Teria minha desforra. Foda-se a TIM.
Parei na porta da Oi, onde os vendedores eram todos jovens e de cabelos arrepiados, rindo e conversando, e decidi entrar. Entrei e não havia ninguém na minha frente na fila de espera.
Fiquei em pé, sem senha, esperando. Chegou mais um cara e pouco depois, mais duas garotas. O cara foi menos paciente que eu, e quando uma das garotas foi atendida na minha frente, minha paciência se esgotou. Sai jurando nunca mais voltar ali. Foda-se a Oi.
Já meio abalado, mas ainda com o sangue quente a fim de uma retaliação dirigi-me a Vivo. O rapaz que fazia a triagem na porta esperou eu me explicar e disse:
- Tudo bem. Mas, a fila de espera é de uma hora e meia.
Eram 21h30. Eu não iria sair do shopping às 23h por causa de uma porcaria de vingança. Não era mais a conta e nem o aparelho. Tratava-se pura e simplesmente de vingança. Fui embora. Foda-se a Vivo.
Só me restou a Claro. Entrei, esperei enquanto alguns vendedores atendiam clientes e outros conversavam atrás do caixa. Minha resistência a cretinos já estava baixa e após dez minutos eu decidi ir embora. Foda-se a Claro.
De uma só tacada essa semana, coloquei na minha cabeça que, não importa o que me ofereçam, manterei o Gurgel e a minha linha pré-paga no meu aparelho idoso, desatualizado e carcomido.
Não vou dar o meu dinheiro suado e sofrido para ninguém que esteja por cima da carne seca.
A única coisa que eu sei é que o mundo gira. Quem sabe amanhã, uma crise de verdade não atinge essas empresas e os consumidores, talvez, voltem a ser respeitados novamente?
Vou apostar nisso e manter o meu pouco dinheiro colado em mim. Pra mim, ele ainda tem algum valor.