terça-feira, 1 de julho de 2008

Brisa...

O asfalto escuro, absorvendo todo o calor do sol em sua plenitude máxima, devolvendo o ar quente, que deforma a paisagem através do vapor, vai ficando para trás. O tempo está abafado com o risco de uma tempestade. O rosto suado, o corpo cansado, as pernas insistindo no correr mecânico, irrefletido, um passo após o outro, perna passando perna, rápido, com os movimentos programados e treinados desde o nascimento, aprimorados para uma corrida, que anos atrás, começou com um propósito, mas que hoje é executada, ele não sabe mais por que. Talvez, simplesmente, não tenha conseguido parar e o faça de forma automática.

Uma gota de suor escorre desde a testa, passando ao lado do olho direito, descendo como uma lágrima, contornando a bochecha, beijando de leve o canto da boca e se atirando ao lado do queixo, em direção ao asfalto, que em segundos faz com que evapore e vá se acumular as negras nuvens, que pouco a pouco se unem ameaçando tapar o sol, apenas para despencarem novamente em direção ao chão, num ciclo que lembra a vida.

O limite próximo, o obriga a reduzir e então parar. As mãos vão para os joelhos enquanto seus pulmões se enchem e se esvaziam de ar, pesadamente, sofregamente, fazendo com que seu peito estufe e diminua, chiando, lembrando que ele correu por tempo demais.

E ali, parado ele sente a brisa.

Fresca, delicada tocando suavemente o seu rosto, levando o vapor de seu corpo, fazendo com que ele feche instintivamente os olhos para apenas sentir sua caricia. Ele, então, entende que é hora de parar de correr e voltar a andar devagar. Essa sensação, trazida pela brisa faz com que ele saiba exatamente o que fazer.

Andando, devagar, a paisagem lhe mostra detalhes, que ficavam ocultos pela pressa.