sexta-feira, 7 de maio de 2010

Cabeleireiros...


Terça-feira eu fui cortar o cabelo. É engraçado como existem regras ocultas no mundo. Padeiros são portugueses, pasteleiros são japoneses, garotos propaganda de lojas de móveis e veículos são chatos e cabeleireiros torcem para um time grande de São Paulo que não seja o Santos, Palmeiras ou Corinthians. Não. A Portuguesa não pode ser considerada um time grande.

A verdade é que por mais de vinte anos eu cortei o cabelo com a mesma pessoa, e ele fugia a regra, ou pelo menos aparentava fugir. Tinha mulher e filhos. O problema é que ele está bem velho e agora com início de mal de Parkinson. Sempre que ele utilizava a maquina para cortar o meu cabelo eu tentava demonstrar calma, apesar de machucar toda a cabeça. Jamais reclamei. Chegava a fazer ferida, mas eu suportava quieto. Como todos os outros clientes. Eu sempre agradeci por terem inventado a maquina de cortar cabelos e por nenhum momento senti inveja dos infelizes que cortavam a moda antiga, com a tesoura. É o preço por se ter um cabeleireiro de macho.

O que realmente me assustava era quando ele tentava acertar o “pezinho”. E ele sempre fazia isso com a navalha. Agora imagine a navalha se aproximando do seu pescoço / nuca, apoiada em uma mão tremula. Acredite, a sensação não é boa. E isso me fez pensar. É claro que o preço de R$28,00 para passar a maquina 2 uma vez por mês também contribuiu.

Entrei no primeiro salão, por que agora é assim que se chamam: salões. Qualquer boca de porco é um salão de beleza. Não tem mais barbearia como antigamente. Uma mulher me atendeu. “Gostaria de cortar o cabelo.”, disse eu. “O senhor tem horário marcado?”, ela rebateu. “Tem que marcar horário para cortar o cabelo???”. Muito educada ela ignorou a pergunta e verificou a agendinha aberta à sua frente. Disse-me que não tinha horário para aquele dia, mas, se eu quisesse, ela poderia tentar marcar para quarta. Fui embora. Entrar em um salão de beleza para cortar o cabelo, até vai, mas marcar hora é um pouco demais.

Não é tão difícil achar um salão em São Paulo, você anda pela rua e conta um pet shop, um bar e duas igrejas e antes de terminar o quarteirão, pronto! Temos um salão de beleza.

Entrei e perguntei se havia alguém para cortar o cabelo. Um cabeleireiro chegou requebrando e dizendo que encarava o difícil serviço de cortar o meu cabelo com a maquina 2. Primeiro ele perdeu um bom tempo tentando me convencer a não passar a maquina, que esse tipo de corte não combinava com o meu rosto e que a minha barba falhada estava “over” no meu rosto, e a moda era deixar franja lisa, e amis um monte de bla bla blás. Ouvi impassível, fingi pensar no assunto em silencio por quase um minuto e disse “Então vamos fazer assim, passe a maquina 2 no meu cabelo e no meu rosto.”. Ele não ficou contente, mas, percebeu que apenas perderia tempo tentando me dissuadir.

Enquanto cortava o meu cabelo, comentou que a barba dele estava comprida, que precisaria depilar de novo. Isso mesmo. O sujeito depila o rosto! “Imagino que isso deve doer pra cacete!”, falei fazendo careta de dor, e ele mandou “Tem coisa que dói muito mais querido. A primeira vez só dói, depois dói mas é recompensador e depois só é gostoso.”. Só pra entender melhor. Estamos falando sobre depilação não é?

Cortei o cabelo, economizei treze Reais, e ainda estou pensando se abandono de vez o antigo cabeleireiro.

Se ele ao menos parasse de usar a navalha...