quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Viagem – Dias 04 e 05 – Retorno...

Depois de quase três dias de praia e sossego, já estava pronto para o retorno. Eu tinha duas opções. Pegar a serra de Taubaté e a Dutra, ou voltar pela serra de Cunha de novo. Como o carro ainda não estava em condições perfeitas de uso, por causa do motor recém feito, eu resolvi voltar por Cunha. Como a estrada é esburacada e não passa muita gente, ninguém ficaria me atormentando por conta da velocidade. Decidido, barraca e mochila dentro do carro e toca pra estrada.

Até o trevo de Paraty, tudo foi às mil maravilhas. Entrei na serra e depois de alguns quilômetros, lá estava eu de novo na trilha. Os primeiros quilômetros foram lindos, como foram na ida. Eis que chegou o sétimo quilometro da trilha.

Alguma coisa fez barulho embaixo do carro. A direção correu da minha mão e o carro puxou violentamente para a direita. Não. Isso já me aconteceu antes. Não pode ser. O pivô é novo.
Desci do carro e fui em direção a roda da frente do lado do passageiro. Pivô. O mesmo da ultima vez. Inacreditável.

Vamos lá Ivan. Nada de tocar fogo no carro. Cabeça fria e analise as possibilidades. Primeira coisa: Achar um guincho, pois vai ser impossível tirar o carro daqui de outra forma. Terá que sair com a frente erguida, pois a roda está pendurada.

Então está fácil. Pegue o celular e mande uma mensagem para alguém que possa te ajudar a achar um guincho em Cunha, ou Paraty. Sem problema, é só mandar uma mensagem para a namorada.

Celular sem sinal. Bom, uma hora dessas deve passar alguém por aqui.
A verdade é que muitos jipes novos passaram. E que nenhum desses parou nem pra perguntar nada. Os caras olhavam e se arrancavam, só não levantando poeira, porque chovia. Nenhum jipeiro de verdade passou por ali. Senão teria parado.

Uma família encostou, indo para Cunha. Ofereceram carona, mas eu não pude aceitar. Não podia deixar meu carrinho filho da puta, largado, no meio do mato. Poderiam depenar ele. Com quatro pneus lameiros novos e outros equipamentos, seria um prato cheio. Pedi que achassem um guincho pra mim em Cunha e pediram o número do meu celular. A mulher disse “Meu nome é Paula, nós vamos achar ajuda e eu te ligo depois.”. Avisei que estava sem sinal, por isso não conseguia guincho, e eles disseram para eu não me preocupar. Olhei no relógio do celular, que para isso estava servindo, e vi que eram menos de três e meia da tarde. Perfeito. Até o anoitecer eu estaria fora dali. Peguei uma revista e deitei em cima do capô, encostado no para brisa. Agora era só esperar. Outros carros passaram, mas também não demonstraram o menor interesse em ajudar. Dali a pouco o guincho iria aparecer.

Quando estava chegando perto das cinco da tarde eu comecei a ficar preocupado. Nada do guincho ainda. Não podia ficar contando com a sorte. Três motos passaram e eu pedi que avisassem alguém em Cunha, um guincho ou um mecânico. E depois mais um carro com outra família.

Um caminhão passou e parou. Três pessoas na caçamba mais o motorista. Eles pularam, e ofereceram ajuda.Começaram a olhar e tentar colocar no lugar. Atento como estava ouvi um dizer para o outro quando estavam os dois outros afastados “Ele está sozinho?”, o outro respondeu “Está.”. Fui até o carro, abri a porta e meti o meu canivete no bolso. Melhor do que nada. Mas, os caras foram legais e ao contrario do que eu imaginei eles me ajudaram. Tentaram prender a porcaria do pivô, mas o carro andou menos de cinqüenta metros e quebrou de novo. Prometeram então conseguir ajuda em Cunha. Os caras eram de Guaratinguetá.

Voltei a minha leitura. Estava cada vez mais difícil de ler, a luz indo embora. E então as coisas começaram a acontecer. Um bicho, provavelmente uma porra de um besouro, só que quinze vezes maior, passou dando um rasante pela minha cabeça, que estava absorvida na leitura. Paguei pela brincadeira do sapo em Trindade. Então o meu cérebro passou a jogar contra, juntamente com meu ouvido. Eu juro que o mato mexia. Algo passava a menos de oito metros de onde eu estava. Alguma coisa grande. Fui para dentro do carro, mas pensei que as minhas janelas de plástico, não iriam me ajudar muito. E o sol estava se pondo.

Foi quando parou um morador de Cunha. “Precisamos tirar voce daqui. Está escurecendo e a coisa fica feia por aqui, depois que a luz some.”. Decidido. Eu iria arrastar meu carro nem que fosse nas costas. Procuramos um ponto de apoio no carro dele, para prender a cinta de reboque, e não achamos nenhum. Então um vizinho dele passou com uma caminhonete. Enquanto enxergávamos alguma coisa ainda, prendemos o carro e o arrastamos, por pelo menos, três quilômetros. Isso destruiu o carro.

Pra se ter uma idéia do que aconteceu, o pneu lameiro era novo. Os cravos, arrancaram o amortecedor, que entrou no pneu e rasgou ele de ponta a ponta, abrindo um rombo na câmera. A barra de direção entortou e tudo que era de borracha, debaixo do carro, se desfez, além de um pedaço do pára-choque dianteiro, ter trincado.

Colocamos o carro no portão de uma fazenda e fui até Cunha no carro da família, para acharmos um mecânico. Ele estava se aprontando para ir me socorrer, pois o guincho da cidade, estava com o motor fundido. Disse que quatro caras em um caminhão pararam na cidade para avisá-lo. Bendita solidariedade do povo de Guará. Já era por volta de dez da noite.

Voltamos para socorrer o carro, ouvindo Zeca Pagodinho (vontade de morrer), onde ele desentortou um pouco a barra de direção, colocou um amortecedor usado e um outro pivô. Fomos até a cidade e parei de novo na pousada da ida. Mais uma noite em Cunha. Eu fiquei meio cabreiro, mas pelo menos a pior parte tinha passado. Meia noite e meia agora.

Eis que toca o telefone. Uma mensagem de voz. Liguei para a caixa postal.
“Ivan, aqui é Paula, são quatro da tarde. Nós não achamos guincho. Boa sorte.”

Bom saber...

Um comentário:

Dejeve Cetier disse...

esse eh o gurgelzão q eu conheço ;D

ele ainda tem o barulho irritante do "vidro"?