terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Feliz ano novo...


Ele passara a tarde toda conversando com a namorada e os amigos sobre as bobas crendices da passagem de ano. Sua mãe, em outros anos, já ficara furiosa com ele por conta desse assunto. Ela que sempre acreditou e, nunca deixou de colocar folhas de louro e sementes que deveriam deixar o dinheiro sempre presente em sua carteira.


Em outros anos, dizia ele, eu permiti que a folha de louro ficasse em um lugar escondido da carteira, para que, como minha mãe havia prometido, o dinheiro nunca faltasse. E realmente não faltou. A nota de um dólar, reservada para o nhoque da sorte, todo dia vinte e nove de cada mês, sempre estivera presente, fazendo companhia a folha de louro, no mesmo compartimento escondido.


A gota final, para matar os mitos e crendices, em sua vida, veio em forma de sementes de mostarda, deixadas sob o tapete do carro, para que o mesmo ficasse sob proteção. As sementes protegeriam o carro, vejam só. A verdade seja dita, ele não batera mesmo o veículo durante o ano, mas talvez apenas, não tivesse tido tempo suficiente. O carro precisou ser vendido para pagar algumas dividas e, isso aconteceu no meio do ano. As sementes, claro, foram com ele. Já estavam há muito esquecidas sob a tapeçaria.


Não. Esse ano seria diferente. Nada dessas crendices. Sua mãe e namorada que o perdoassem, mas ele não perderia seu tempo com essas baboseiras supersticiosas.


Estava determinado a arriscar a sorte do ano para provar a todos que nada disso tinha valia nenhuma. E faria isso mesmo.


Faltando poucas horas para o término do ano e inicio do outro, ele tomou banho e de forma despretensiosa, pegou qualquer roupa da mala. Por um acaso a cueca de cima era amarela. Amarelo, fortuna. Besteira, mas ele prometeu não perder tempo com isso e a vestiu mesmo assim. A bermuda branca também era a primeira e a camiseta branca era a terceira, mas as outras cores não combinariam. Nada de superstição. Apenas noção de como se vestir razoavelmente bem. Tirariam fotos. Não poderia se vestir de qualquer maneira.

Calçou o par de chinelos novos e desceu para a ceia.


Comida farta. Evitou o frango, não porque alguns bobos diziam que no ano novo não era bom comer carne de um bicho que cisca, mas pelo simples fato de não sentir vontade de frango. Havia outros pratos mais chamativos para apreciar. Frango era muito comum.


Passada a ceia e faltando apenas vinte minutos para a passagem do ano, a namorada, ele e os amigos todos, dirigiram-se para a praia. Ele foi para acompanhá-los e também assistir a queima de fogos. A cada ano a coisa ficava mais e mais bonita.


Contagem regressiva, os fogos queimando no céu o primeiro beijo do ano, a rolha sendo expulsa da garrafa de champanhe pela pressão, o conteúdo da garrafa sendo distribuído entre os copos dos presentes até que não restasse mais nada no vasilhame. E o brinde. Saúde, paz, prosperidade, etc.


Um pouco de champanhe de seu próprio copo caiu em seu pé. Em seu chinelo novo. Antes que começasse a grudar ele o lavaria na praia. Avisou a todos e andou até o mar. Antes de entrar, olhou para trás e viu que todos estavam distraídos com o finalzinho da queima de fogos.


Entrou com o pé direito, pedindo licença para Iemanjá e rapidamente lavou o pé melado. Antes da oitava onda, depois de pular todas as anteriores, já estava saindo. Olhou para trás e fez um pedido.


Que esse ano seja melhor que o anterior. Para meus amigos todos e eu.


Crendice? Não. Sua avó já dizia. Melhor um pouquinho de canja de galinha do que quilos de remédio.


Tenhamos todos um feliz 2008!

Um comentário:

Gwen disse...

Supersticioso? Nada! Isso dá azar ;)