terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Viagem - Dia 01 - A ida...

Toda viagem começa com a decisão. E eu estava decidido a viajar para o litoral. Há cerca de três meses, Gustavo, um professor que dividia aulas comigo em um dos colégios para o qual eu trabalhei, me convidou para atravessarmos o litoral paulista, eu de carro e ele de moto, procurando trilhas e areia. A idéia pareceu muito boa, e por conta disso, preparei o meu carro, instalando pneus lameiros altos, bancos concha e cinto cinco pontas.


Após a noticia de que ele precisaria de mais uma semana para começar a viagem, eu decidi testar o carro, e para isso escolhi ir até Cunha. Passei a ultima segunda feira cuidando dos detalhes, como freios e revisão do motor.


Na terça feira, dia 08, acordei às 04:30h joguei no carro a mochila e a barraca e botei o pé na estrada. Anhanguera, Marginal Tietê e Dutra. E o carro respondendo bem. No primeiro pedágio, já perto de Arujá, o carro morre. Uma fumaceira dos diabos saindo do motor. Um dos funcionários do pedágio me ajudou e empurramos o Gurgel até uma área sem movimento à espera do guincho.


Já vi a viagem fazendo água. Para quem queria ver o mar...


Esperei cerca de uma hora pelo Guincho e quando ele chegou me levou até uma oficina mecânica em Arujá, interior de São Paulo. Como cheguei por volta das seis e meia, precisei esperar até as oito para que ela abrisse. Quando abriu demorou até as dez para regular o motor e então me avisou. “Eu tentei regular o motor duas vezes. Se ele fizer isso de novo, será necessário trocar o cabeçote.”.


Pra quem não entende de motor, basta dizer que essa é a segunda pior coisa que pode acontecer, no quesito financeiro, perdendo apenas para “motor fundido.”. Rezei para que não fosse. Muito.
Paguei, peguei a estrada de novo e nem dez quilômetros se passaram, quando percebi que não apliquei a fé necessária. Deveria ter lido com mais afinco aquele livro besta “O segredo”. Talvez tivesse desejado com mais vontade, ou da maneira correta. Não deu outra. O motor abriu o bico de novo. Fazer um retorno na Dutra e voltar para a oficina. Mais uma hora se passou e a noticia veio. Mais de mil e trezentos Reais pra consertar. Havia outra possibilidade? Não. Conserta.


O mecânico me avisou que se as peças chegassem até as duas da tarde, seria possível fazer o reparo no dia mesmo. Mas caso isso não acontecesse, então o carro só ficaria pronto no dia seguinte. Arapuca foi a palavra que me veio a cabeça. Arapuca. Preso nessa porra de cidade e ainda terei que passar a noite dentro do carro, preso na oficina. Pelo menos o banco é confortável.


Minha sorte mudou um pouco, quando as peças chegaram por volta de uma e meia da tarde.
Fiquei um pouco mais calmo. Bastava que o mecânico cumprisse a sua palavra.
Para passar o tempo, eu intercalava cochilos com a leitura de um livro do Sidnei Sheldon que levei.


O problema é que a oficina estava em reforma, provavelmente com o dinheiro dos viajantes desavisados, que por lá aportavam com seus carros quebrados, e havia dois pedreiros quebrando o chão. O dia todo.


As pancadas ritmadas das marretas não paravam. PUM, PAM, PUM, PAM. Irritante. Ainda bem que foram apenas umas nove horas de pancadas contra o concreto do contra piso.
Durante determinado momento eu estava lendo e ouvi barulhos diferentes das pancadas no chão. Os pedreiros jogaram as marretas no chão e correram para fora, seguidos dos mecânicos da oficina. Tiros.


Um carro roubado passou na frente da oficina e a policia atenta, disparou quatro tiros em direção ao carro que, desgovernado foi em direção à calçada e ficou preso entre um poste e um muro. Um ladrão a menos no mundo, um a mais no inferno. Todos os mecânicos a menos na oficina. Demorou para a cidade voltar a suas tarefas, depois desse evento. Isso estava me preocupando. Já passávamos das cinco da tarde.


Quando o relógio já marcava sete e meia, o mecânico finalmente acabou o serviço. Dei uma volta para experimentar o carro e aprovei. Fui em direção a estrada novamente. Parei diante da placa que indicava São Paulo para a esquerda e Rio de Janeiro, para a direita.


Fui para a direita. Não desistiria agora.


Peguei a Dutra novamente e segui viagem. Cheguei a Cunha por volta das dez e meia. Como eu sabia que era muito desaconselhável pegar a trilha de Cunha até Paraty depois de escurecer procurei uma pousada bem baratinha. Meu bolso ainda estava doendo muito. Paguei R$20,00 a diária. Banheiro coletivo. Uma pousadinha “quase” limpa. Deixei as minhas coisas no quarto e, como estava com fome, fui procurar algum lugar para comer.


Cidade do interior com alguma coisa aberta depois das dez em plena terça feira? Acorda Ivan. Amanhã de manhã você toma café.


Tomei banho e foi só encostar a cabeça no travesseiro com cheirinho de mofo para dormir.


Viajar cansa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que dó..