terça-feira, 6 de novembro de 2007

A arte de colar...


Dia de prova. Sempre o mesmo roteiro. Entro na sala de aula, com o pacote de avaliações em baixo do braço. Jogo o pacote na mesa e olho para a classe, à procura de olhares desviados. O primeiro sinal.
O tempo sempre está a meu favor nessas datas. Sempre. Calmamente, tiro as avaliações do pacote, e as separo em cima da mesa com a frente voltada para a mesa. Isso aumenta a tensão de quem está com más intenções. Deixo as avaliações na mesa e faço algum discurso para tentar convencer essas pessoas, de que essa não é a melhor das idéias. Convencê-las de que mesmo que elas sejam boas nisso, eu também sou, o que aumenta em muito a probabilidade do fracasso. Fiz isso a minha vida toda. Ginásio, Colégio, Faculdade e até licenciatura. Sei muito bem do que estou falando. Conheço esse terreno como a palma de minha mão. E agora me voltei para o outro lado. O lado opressor. O lado negro. Agora eu sou o inimigo. E conheço as artimanhas, as técnicas e as táticas.
Amoleço o lado psicológico. Depois do discurso eles já estão prontos.
Entrego as folhas ainda viradas para os primeiros das fileiras e peço para passarem para trás. Isso me deixa avaliar as reações de uns poucos. O segundo sinal.
A verdade é que mais da metade dos que fariam algo, desistem nessa hora.
Agora nada mais é probabilidade. Agora tudo é fato. Ou está acontecendo, ou não está.
Com os nervos já atiçados, os “coleiros” (vamos chamá-los assim), já estão prontos para serem pegos. E seus atos vão entregá-los. Quem é professor sabe para onde olhar. Nos primeiros trinta segundos de prova, já é possível saber quem vai e quem não vai colar. Eu sei disso, colegas meus sabem disso e alguns como o Rogério, melhor ainda.
Procuro não olhar diretamente para o “coleiro”. Mas quem está colando, tenta se certificar de que não está sendo observado. Procura a posição do professor o tempo todo. O terceiro e derradeiro sinal.
A tática para apanhar as primeiras colas é simples. Ficar parado, fingindo de morto. Alguns ganham coragem nessa hora. Puxam a cola e ficam vulneráveis nesse momento. Nunca me levanto enquanto eu não tenho a completa noção de onde veio o papel e para onde ele vai. Depois é levantar, caminhar lentamente, com o alvo em vista o tempo todo e pegar. Cola e avaliação. Contravenção e provas do crime. Sem discussão, sem ameaças, sem risadas, sem nada. Em absoluto silêncio, para não assustar os demais. Alguns dão risada, outros ficam nervosos. Quarto e desnecessário sinal.
Pegou à primeira, vá atrás das outras. Não de uma segunda chance. Os que não forem pegos darão risada dos que forem. Seja opressor, mas seja justo.
Eu não faço isso pra prejudicá-los. Mas, se você quer fazer algo ilícito, pelo menos faça a coisa correta. Colar é uma arte.
Se o Lula tivesse sido meu aluno, ele estaria fazendo um governo melhor.
O que lhe falta saber, é que sempre, sempre, tem alguém de olho.
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Foto: 05/11/2007 - Colas apreendidas em um dia de provas...

4 comentários:

Gwen disse...

Cola com gordura? Manuscrita? Aff... hehehe. Tava certa, pelo menos?

Prós disse...

hehehe... quer saber mesmo? Mancha de mateiga e a cola nem estava certa.. hahaha

Vivi disse...

eu nunca colei!!! hehe
:P

Prós disse...

uhum.. claro que não ;)