segunda-feira, 23 de julho de 2007

Profissão - Professor...

Então. Começaram as aulas de novo. E de novo eu começo a trabalhar.
Sim. Educador é uma profissão. Ainda mais em um país como o nosso, onde um professor, para ganhar um salário razoável, eu não disse bom, eu disse razoável, precisa trabalhar em até três ou quatro locais diferentes. Hoje mesmo, eu estava fazendo as contas de quanto eu trabalho. Durante dois dias da semana eu entro em aula as 08:00h e só saio das aulas as 23:00h. Mais ou menos 15 horas de trabalho em um dia. Nos demais dias, os mais tranqüilos, eu entro as 13:00h e saio as 23:00h, trabalhando 10 horas. Isso me dá um total de 60 horas em uma semana e, aproximadamente 240 horas em um mês. Isso sem contar, é claro, as infindáveis horas corrigindo as provas, o que é extremamente chato, e preparando as aulas. Sim, porque ninguém enfrenta uma classe com, em média, quarenta adolescentes, sem uma aula bem preparada. A não ser, é claro, que a pessoa seja masoquista. Acontece.
É por esses motivos que eu estou cansado de ouvir dos meus alunos “Ei professor. Você trabalha também, ou só dá aulas?”.
Como assim, eu trabalho também? Quer dizer que quem dá aulas não trabalha? É isso? A vontade mesmo, depois de tantas vezes que eu já ouvi a essa pergunta, é responder, sem nem alterar o tom de voz – “Não seu bastardo, filho de uma puta. Eu só dou aula. Eu realmente não faço mais porra nenhuma da vida. Eu só fico aqui, sendo sustentado pelos impostos pagos pelo bosta do seu pai, para aturar uns cretinos como você, para que ELE possa então, trabalhar de verdade.”.
Vontade não me falta. Mas eu acho que isso não se encaixa muito bem no perfil de um educador, e é por isso que eu não respondo dessa forma. Eu uso a minha resposta padrão. “Eu não entendi a sua pergunta. Por favor, faça ela de novo, bem pausadamente dessa vez.”. Alguns pegam a mancada na hora. Outros ainda não, e ficam com a cara de questionadores. Vamos lá. Eu formo técnicos. Pessoas que serão profissionais, assim que saírem do ultimo módulo. E o mercado é implacável lá fora. Ele não tem dó de pessoas inocentes. Qual a minha função? Acabar com todo e qualquer resquício de inocência que ainda possa haver no coração dos meus alunos. Eu sou pago pra isso. Então que resposta seria mais apropriada do que “Vai se foder.”?
Eles já estão acostumados comigo. Acho que por isso não ficam tão assustados.
Essa é uma das melhores profissões do mundo. Em poucas empresas, um bom serviço é reconhecido. Em uma escola, quando se dá uma boa aula, imediatamente você tem o retorno. E isso vale até mesmo o baixo salário.
Temos também duas férias em um ano. Uma em julho, bem curtinha de uma semana, às vezes duas, e uma em dezembro, com pelo menos trinta dias. Isso é muito bom também.
Mas o que eu mais gosto é do tipo de relação que se estabelece, logo no primeiro contato. Eu chego e aviso como vai ser, o que eles vão enfrentar e o que vai fazer com que eles reprovem, ou sejam aprovados. Eu já tenho experiência para saber disso. E nada mais justo que avisar.
Mas, o primeiro contato com os alunos, é como deveria ser, com todos os outros primeiros contatos, em todas as outras áreas. Claro, objetivo e, mostrando quais são as regras do jogo.
Eu prefiro assim.
O problema é que nos apegamos a eles. Conhecemos seus nomes, suas fraquezas, seus pontos fortes. De alguns até seus problemas emocionais, e algumas vezes, inclusive, nos pedem conselhos. E depois de um ano e meio eles vão embora. E a vida tem que recomeçar.
Outra vantagem de ser professor.
Você acaba ficando bom com recomeços.
E a vida continua.
Que venham os novos alunos.

3 comentários:

Gleyciely MoraEs disse...

Boa sorte na sua volta as aulas Professor.

Anônimo disse...

Um final muito bonito...

Gwen disse...

Pra que dormir se vc já pisca?

;)